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06 janeiro 2010

As minhas páginas rasgadas...


Os livros são meros papéis em que pintamos os nossos sentimentos. Nessa escrita a tinta tende a ser o sangue e as lágrimas que se estendem em palavras inundam linhas ainda por preencher. As folhas que tenho agora à minha frente parecem-me incapazes para receber os segredos que gostava de te murmurar no ouvido. Sinto-me sozinho no meio de tantas páginas perdidas que se levantam da mesa à mais pequena brisa que invade esta sala. Tenho medo de desiludir o deus em que não acredito, que me leve a força das mãos e não consiga suportar o peso da caneta. Odeio tudo isto mas não sei como o mudar. Irrita-me a impossiblidade do não uso das palavras, dos silêncios contidos e das palavras estranguladas entre respirações abruptas. Dói o rasgar do papel como se da minha pelo se tratasse. Não há segredo no amor que não seja segredo para ele mesmo. Não há segredos escondidos em livros nas prateleiras do tempo e nunca haverá quem o impeça. Gosto de passar os dedos pelo papel e sentir nele a tua pele, gosto do sabor das tuas palavras que estremecem nos lábios e dos sorrisos carregados de beijos que ainda não se soltaram. Gosto de ti assim porque é assim que as histórias rasgam as amarras do coração e correm para se deitarem nas frias páginas. No fim escrevo o teu nome e o meu e em seguida risco-o com toda a força e toda a tinta que consigo despejar de forma que não os consiga voltar a ver. Liberto-me da raiva do tentar não gostar e de saber que mesmo riscados os nomes permanecem lá.

Pedro Ferreira - Janeiro 2010

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