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22 maio 2006

B. Berenika

Olá mulher que eu amo venho aborrecer-te
acordar-te, desconcentrar-te, sacudir-te, entorpecer-te
em tormentos e loucuras de quem já morte viu e só quer vida
e que a vida sejas tu, mulher, como um nenúfar espalmado
no que me resta de coração.
Estou na casa, as paredes são tão novas, há suores secretos
nos meus dedos , escondo-te nas paredes, debaixo do tapete
desde esse teu ar sisudo a uma curva nua que tens na pele
e só eu, nem tu conheces

(…)

E amo-te como o élitro da borboleta que se rasga se a carícia for torta
e como à borboleta inteira te desejo, antes de te ver partir
e tento sorrir mas não consigo.
É que aqui, nesta casa, estou só, a pensar em ti,
e esta casa ainda nem tem umbigo

E talvez regue as plantas. Talvez faça café. Talvez leia um ou dois poemas
do Ruy Belo para que as paredes me comecem, toscamente,
a perfurar, a embalar, a nutrir de mansinho
mas és tu que eu queria, és tu que eu não tenho, mulher
És tu que transformas o nenúfar em paixão
e a solidão em universo

E amo-te como nunca amei
Tu o grande livro, eu apenas verso

"Não sei nunca por onde", Manuel Cintra

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