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06 outubro 2006

«E o cheiro a mofo antigo daquela casa, soou-me, de repente, a um cheiro de primavera de santidade. Suponho que o meu rosto inocente de criança tenha esboçado um ligeiro esgar de alegria ao imaginar a exumaçao vitoriosa daquele corpo de homem. Ao imaginar a vitória de uma carne intacta, ainda que morta, sobre a leviandade das hordas de vermes que, pelas leis naturais da vida e pela inevitável sentença da morte, o deveriam ter já corrompido há muito.
Foi entao que: “O médico, cura-dor morreu!”, exclamou, surda, a minha mae. A fama de santo e homem de ciencia, daquele que era agora um cadáver, havia precedido em muito a sua imagem humana, de carne e osso, o que lhe valeu o esquecimento do nome de homem em detrimento do nome da funçao que exercera durante toda a sua vida.»

Excerto do conto “O Médico, Eremita Cura-Dor”
in «SEDIMENTOS DO DIA – Memórias do Homem-Peixe»
por Bruno Brasil

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