Depois de dois meses e meio de intensiva preparação, que incluiu a organização de várias acções públicas (uma queima de recibos verde, três debates, uma jornada de reflexão, uma festa no dia 25 de Abril; e muitas distribuições de panfletos e assembleias gerais) estávamos finalmente no dia 1º de Maio.
Para muitos de nós, nascidos nos pós 25 de Abril, esta seria uma estreia absoluta numa manifestação do Dia do Trabalhador. 2009, por ser o ano que inicia a maior crise económica a que o mundo assiste desde 1929, será porventura, também, o primeiro de muitos Maios para a nossa geração. O Porto, a zona norte a que pertencemos, concentra a maior mancha de desempregado/as e desemprecário/as do país. Tínhamos por isso de reagir. E Maio foi o principio das respostas que se poderão seguir.
Às 12h00, na Praça dos Poveiros, ponto de concentração dos trabalhadores precário/as, montamos a banca e o som e demos início aos concertos do Paulo Praça e da Associação José Afonso, assim como à leitura dos textos que tinham sido escritos no decurso da operação Mayday. Fizemos o pic-nic, terminámos todas as questões logísticas e iniciámos a nossa manifestação.
Com pancartas, faixas e megafones, arrancámos toda a revolta das nossas entranhas e protestámos contra a tirania que é a precariedade. A faixa da frente “Precários do Mundo Inteiro Uni-vos” exprimia o sentido da nossa luta, que é a mesma de todos os trabalhadores sujeitos à desregulação do trabalho e à exploração do mercado neo-liberal. Por isso quisemos juntar-nos aos sindicatos e mostrar que “a união faz a força”. E por isso chamámos para dentro da manifestação todos aqueles e aquelas que nos passeios nos aplaudiam e encorajavam. “Sai do Passeio e vem para o nosso meio!” dizíamos. Eramos já mais de 300 pessoas.
Os nossos slogans e canções foram muitos: “Com a Precariedade Andamos para Trás”, “A Precariedade Congela-nos a Vida”, “Precários Hoje, Revolucionários Amanhã”, “Deixa passar, deixa passar, eu sou precário mas o Mundo eu vou mudar!”.
Sim, sentimos as pessoas connosco. Sentimos que fizemos bem ao alicerçar pela primeira vez no Porto uma manifestação inovadora, onde está massivamente representada a nossa geração. A geração dos 500 euros, dos recibos verdes, dos estágios não remunerados, a quem é dito que vai ter uma vida pior do que a dos seus pais, e qui ça que a dos seus avós. Não aceitamos este modelo, e por isso decidimos unir esforços e encetar lutas colectivas que possam fracturar as falsas expectativas, para que o marketing político, financeiro e comercial, que nos foi vendido desde os anos 80, seja posto em causa.
Queremos uns país realmente europeu, com movimentos sociais próprios. Não um país aninhado e servil que se deixa explorar e tiranizar em silêncio. Ao Porto isto fez bem. Foi formativo e agregador. A nós isto fez-nos bem porque aumentou o capital de esperança na vida e na luta.
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