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06 agosto 2008

Eu Servi o Rei de Inglaterra - a ver, rever e não deixar de ler


Bohumil Hrabal é um daqueles autores que adoro,facilmente me apaixonei pela sua escrita. Em Portugal é editado pelas Edições Afrontamento que reeditaram recentemente o livro Eu que servi o Rei de Inglaterra - podemos vê-lo agora adaptado para cinema. Já no ano passado os Artistas Unidos tinham levado a cena uma peça baseada num outro livro do mesmo autor: Uma solidão demasiado ruidosa e em 1967 tinha já sido adaptado para cinema o livro Comboios rigorosamente vigiados com o qual Jirí Menzel conquistou o Oscar de melhor filme estrangeiro.
Aconselho vivamente a leitura dos seus livros e aconselho também este filme. Porque costumo ter a ideia que os filmes adaptados nunca são tão bons como o livro, este deixou-me maravilhado com o engano - as personagens correspondem ao que tinha imaginado delas e a história respeita totalmente o espirito da obra... sem dúvida alguma a não perder !



Ditie, o auxiliar de garçom, perde a inocência num bordel, segue à risca os conselhos do companheiro que serviu reis, casa-se com uma professora de ginástica naz, transforma-se num rico proprietário de hotel com o fim da guerra e vai à bancarrota com a ascensão dos comunistas. O mundo de Ditie é, enfim, uma gangorra, mas o baixinho raras vezes consegue se manter nas alturas.
Enviado para a prisão pelo regime comunista depois de ter enriquecido, anos antes, vendendo uns selos raros ("perdidos" por judeus em fuga dos nazis). Depois de uma pena de quase 15 anos, regressa à liberdade indo parar a uma cidade fronteiriça quase abandonada. Aí, recorda a sua juventude, a sua ascensão e queda. O filme, produzido na República Checa, ganhou os "óscares" checos de melhor filme, realização, fotografia e actor secundário (Huba) em 2007. Em Berlim, foi nomeado para o Urso de Ouro e recebeu o prémio FIPRESCI (Federação Internacional dos Críticos de Cinema).

Site Oficial do filme Obsluhoval jsem anglického krále (titulo original)

Por causa de suas parábolas políticas, Hrabal, que começou a publicar relativamente tarde, aos 49 anos, passou uma boa temporada no limbo editorial dos censores durante a ocupação soviética. A individualidade das suas personagens, a sua incomoda independência ideológica e a franca exposição do ardente desejo sexual pelas mulheres custaram ao escritor a incompreensão dos burocratas. Ao mesmo tempo, 3 milhões de leitores checos não podiam estar errados e a crítica internacional não tardou a descobrir as razões de seu sucesso: autenticidade, humanismo explícito, bom humor e uma capacidade incomum de descrever a vida de operários resistentes à doutrinação política totalitária.
A literatura de Hrabal respira nos breves momentos de euforia libertária do povo checo, mas não escapa a uma frequente comparação crítica com Jack Kerouac e Dylan Thomas. Ele, ao contrário, tinha uma inocência pagã, felliniana, de quem vê o mundo com olhos de criança. E, como um "eslavo autêntico", foi uma criatura dominada por emoções.
A sua descrição da lua-de-mel com a ginasta nazi é, ao mesmo tempo, engraçada e trágica. Desse relacionamento eugénico entre a valquíria alemã e o vira-latas que dormiu com todas as mulheres de Praga não poderia jamais nascer o fundador da Nova Europa.

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