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08 fevereiro 2007

Aborto Clandestino mata em Portugal!


Ana, 14 anos. Maria Ester, 32. Lisete, 36. Partilharam em comum a história de um aborto clandestino mal feito que as levou à morte. Já depois de 1998, o ano em que os portugueses disseram "não" à despenalização da interrupção voluntária da gravidez. "É preciso ter respeito por estas mulheres e sem medo dizer que o aborto clandestino mata em Portugal", afirmou Vasco Freire, mandatário do Movimento Médicos pela Escolha.
O Movimento preparou para a recta final do referendo que se realiza domingo a artilharia pesada de relatos médicos sobre "mulheres que fugiram de uma lei injusta, que as trata como criminosas" e que pagaram com a vida o recurso à clandestinidade do aborto. A sessão decorreu na minúscula sede do Jovens pelo Sim, no Largo da Trindade, e até cativou a atenção de algumas televisões estrangeiras, como a TVE.
Um único relato foi feito na primeira pessoa sobre a ineficiência da actual lei, mesmo quando a interrupção é ditada por razões médicas. Uma professora de biologia do ensino secundário, de nome Catarina Sá Leal, que engravidou de gémeos verdadeiros, tendo sido diagnosticado uma malformação profunda num dos fetos (falta de cerebelo) às 20 semanas de gestação. "A minha gravidez desejada tornou-se indesejada. Não queria ser mãe de uma criança profundamente deficiente", disse aquela mãe. Queria levar por diante o feto saudável, mas os entraves foram tantos no acompanhamento que lhe foi prestado no Hospital de Santa Maria que... "Fui a Madrid fazer essa interrupção em segurança. Bem!.. Em segurança, quando a viagem correspondia a um perigo de aborto espontâneo e a perda do outro feto. Em Madrid tive vergonha de ser portuguesa." Catarina pediu ali mesmo, com os médicos pela escolha à mão, que pensem nas modificações que terão que ser feitas no pós 11 de Fevereiro, caso o "sim" ganhe, para que estas situações fiquem contempladas. " E para que mais ninguém sofra o que eu sofri!"
A médica Maria José Alves lembrou um caso ainda mais dramático que marcou o seu percurso profissional. O de Natália, moça de 21 anos, que desde pequena sofria de uma doença grave. Engravidou e os médicos subestimaram o risco de sua vida. "Ela dizia: eu quero é viver. Natália morreu, porque nós, os médicos decidimos por ela", frisou a obstetra.
É por esse, e por tantos outros casos, que quer ver mudar a lei. "Acabar com este mal-estar que me persegue por ter que virar as costas a tantas mulheres."
Mulheres como as que o assistente social em Campanhã, José António Pinto, condenado a 45 dias de prisão no julgamento da Maia, por encaminhar várias das que lhe pediam para interromper a gravidez, se recusa "a abandonar".
Ele que convive com elas todos os dias, conhece os dramas do seu bairro do Lagarteiro, onde o desemprego de longa duração, a toxicodependência, o abandono escolar e a criminalidade andam de mãos dadas num "território de exclusão" que propicia a gravidez indesejada. "Se eu não as ajudasse, sabia que elas metiam uma agulha no útero e iam morrer nas mãos de habilidosas que fazem desmanchos."

in DN

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