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05 abril 2009

Quanto custa uma Ocupação ? Não chega !


Após a ocupação de Belas Artes e os protestos realizados em frente à Reitoria, esta anunciou, pela voz da vice-reitora Maria de Lurdes Correia Fernandes, um “fundo de apoio extraordinário para acorrer aos estudantes que se encontram em situação de fragilidade”. A Reitoria já reconhece o que todos sabemos. A situação no ensino superior é grave. As propinas, além de injustas, tornam-se incomportáveis. A acção social é totalmente insuficiente. Bolonha tem significado um ensino mais mercantil e mais caro. As Faculdades – a de Belas Artes como tantas pelo país – têm problemas concretos que é urgente resolver: bar, reprografia, horários, faltas, salas, reformulação de cursos.
Percebemos, pela declaração da Reitoria, que só a luta traz mudanças. Percebemos que só a luta desperta os poderes para a dimensão dos problemas que existem.
Esta ocupação valeu a pena. Quanto mais não seja, porque hoje toda a gente discutiu os problemas da Faculdade. Essa é uma primeira vitória de uma luta que continua.
Decidimos não ficar calados. A faculdade é nossa. Belas Artes pertence aos estudantes. Dignificámos a nossa instituição e honrámos o seu nome e a sua tradição de inconformismo. Porque já chegava de silêncio e fomos exemplo para muitos estudantes e muitos professores que percebem a gravidade da situação como ficou explícito com as declarações do Professor Paulo Almeida ao Público. Todas as escolas pertencem a todos os estudantes de todo o país. Nós, ocupantes, saudamos toda a solidariedade que recebemos. Representamo-nos a nós, aos que em assembleia decidiram a acção e à injustiça que todos os estudantes sentem. Preocupa-nos que todos os dias as escolas impeçam a entrada a estudantes que não têm condições, na sua maioria monetárias, para entrar na Universidade. Preocupam-nos os estudantes que, por isso, todos os dias ficam barricados do lado de fora do ensino superior.
Dentro da Faculdade tivemos a solidariedade de três estudantes da Faculdade de Letras. Saudamos todos os nossos colegas de todas as Faculdades. Não é só solidariedade. É mais do que isso. É aprender a fazer a luta em conjunto.
Saudamos todas as mensagens de solidariedade que recebemos. É bom saber que há tanta gente connosco. Agradecemos a quem nos escreveu, aos estudantes que nos deixaram mensagens no blog. Da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, da Universidade do Algarve, da Universidade de Coimbra, Rádio Universitária, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, da Universidade de Tessalónica, na Grécia, da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, da Universidade do Minho – Grupo AGIR, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e dos Estudantes Unidos – MEIEU, da Universidade de Barcelona, do ISCTE, da ESAP. Hoje, estiveram todos connosco em Belas Artes do Porto.
O que foi anunciado pela Reitoria é um pequeno remendo para um barco a afundar. Não chega.
É preciso mudar o financiamento, para não termos faculdades sem condições, sem serviços, com horários restritos e sem coisas básicas como bar e reprografia. É preciso mais acção social para assegurar que não há mais estudantes a deixar de estudar por não terem dinheiro. É preciso pôr em causa Bolonha e a sua lógica. É preciso recuperar a democracia e rejeitar a transformação da Universidade em fundação.
Em tantas Faculdades e Universidades do país, sabemos que há estudantes que olharam para nós e sentiram que é possível dar expressão à revolta. A partir deste dia, temos mais confiança.

Para nós, a luta continua. Em Belas Artes e em todos os lugares onde for preciso.

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